O AMOR INFLAMADO E EXIGENTE DE NOSSA SENHORA

Nossa Senhora tem seu coração inflamado de um amor exigente, que nos impulsiona a amar.

Por graça, Nossa Senhora tem seu coração inflamado de amor por Deus, por isso é exigente consigo mesma, entregando-se inteiramente ao Senhor desde a sua mais tenra idade. Segundo a Tradição da Igreja, ainda em sua infância a Menina Maria foi consagrada ao serviço do Templo, por seus pais, São Joaquim e Santa Ana. Em consequência desse amor ardente para com Deus, a Virgem de Nazaré amou ardorosamente o próximo. O amor da Virgem Maria era tão grande e exigente, que de certa forma ela ensinou Deus a amar, quando disse a seu Filho Jesus Cristo, na festa de casamento em Caná: “Eles já não tem vinho” (Jo 2, 3). A princípio, o Filho de Deus relutou, dizendo à sua Mãe: “Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou” (Jo 2, 4). No entanto, a resposta aparentemente negativa de seu Filho não desanimou a Mãe.

Nossa Senhora tem seu coração inflamado de um amor exigente, que nos impulsiona a amar.

O primeiro milagre de Jesus Cristo, nas bodas de Caná, pela intercessão da Virgem Maria

O amor a Deus e ao próximo da Virgem Maria, mostrou-se também exigente com aqueles que serviam as mesas: “Fazei o que eles vos disser” (Jo 2, 5). A pedido de Jesus, estes encheram seis talhas de mais ou menos cem litros cada. Os serventes certamente tiveram muito trabalho para encher as talhas, pois naquele tempo não havia as facilidades de hoje. Mas, este ato de amor tão exigente, que pediu a Virgem Maria aos serventes, foi recompensado pelo Senhor, com seiscentos livros do melhor vinho (cf. Jo 2, 10). Ao mesmo tempo, nesse milagre realizou-se o primeiro ato de amor público de Jesus Cristo, alcançado pela intercessão amorosa da Virgem Maria.

O contínuo ato de amor da Virgem Maria para com Deus

Deus, que é amor, veio ao mundo para acender em todos nós a chama do Seu divino amor; mas nenhum coração ficou tão abrasado como o Coração de sua Mãe Santíssima. O Coração da Virgem Maria, desapegado das coisas terrenas, estava inteiramente disposto para arder neste santo fogo de amor. Por isso, o Coração de Maria se tornou todo fogo e chamas, como lemos nos Cânticos sagrados em latim: “Lampades eius, lampades ignis atque flammarum”; e em português: “As suas lâmpadas são umas lâmpadas de fogo e de chamas” (Ct 8, 6). “Fogo, ardendo interiormente, como explica Santo Anselmo, e chamas, resplandecendo para fora com o exercício das virtudes”1.

A própria Virgem Maria revelou a Santa Brígida que, neste mundo, ela não teve outro pensamento, outro desejo, nem outro gosto, senão Deus. Sua alma bendita, consumida sempre nesta terra na contemplação de Deus, fazia inúmeros atos de amor. Maria Santíssima “não multiplicava os atos de amor, como fazem os outros santos; mas, por um privilégio singular, ela amou a Deus atualmente com um contínuo ato de amor”2. Como uma águia, sempre tinha os olhos fixos no Sol divino, que é Jesus Cristo, por isso, as ações cotidianas não lhe impediam o amor, nem o amor lhe impedia a ação.

Santo Ambrósio, São Bernardino e outros santos, diziam que “nem mesmo o sono interrompia o ato de amor da Santíssima Virgem; de modo que podia verdadeiramente dizer com a sagrada Esposa”3: “Ego dormio, et cor meum vigilat”, ou seja, “Eu durmo e o meu coração vela” (Ct 5, 2). O altar propiciatório, cujo fogo nunca se extinguia, nem de dia, nem de noite, foi figura de Maria. Santo Alberto Magno ensinava que Maria foi cheia de tão grande amor que quase não cabia mais amor nela, uma simples criatura terrestre. “Os próprios serafins podiam descer do céu, para aprenderem no Coração de Maria como se deve amar a Deus. No reino celeste ela só, entre todos os santos, pode dizer a Deus: Senhor, se não Vos amei quanto mereceis, ao menos amei-Vos quanto me foi possível”4.

O ardente amor da Santíssima Virgem para com o próximo

O amor para com Deus e para com o próximo é para nós um mandamento: “o que amar a Deus, ame também a seu irmão” (1 Jo 4, 21). A razão dessa lei de Deus, nos dá Santo Tomás de Aquino: “Quem ama a Deus ama todas as coisas amadas por ele”5. A este respeito, disse um dia Santa Catarina de Sena: “Meu Deus, quereis que eu ame ao próximo e só a vós eu posso amar”, [e o Senhor lhe respondeu:] “Quem me ama também ama tudo aquilo que é amado por mim”6. Consequentemente, como nunca houve, nem haverá quem ame Deus mais do que Nossa Senhora, tampouco nunca houve, nem haverá jamais quem ame o próximo mais do que ela.

Maria Santíssima é uma alma tão caridosa que socorria todos os necessitados, ainda que não pedissem o seu auxílio. Foi assim que a Virgem de Nazaré agiu nas bodas de Caná. Com as palavras “Eles não têm vinho” (Jo 2, 3), pediu ao seu divino Filho que livrasse milagrosamente os esposos recém-casados do inevitável vexame. Quão apressada era Nossa Senhora, quando se tratava de socorrer ao próximo! Por isso, movida pelo dever de caridade, foi servir Isabel: “Maria levantou e foi às pressas às montanhas, para uma cidade de Judá” (Lc 1, 39). “Mais brilhante prova dessa grande caridade não nos pôde dar, do que oferecendo seu Filho à morte pela nossa salvação. Tanto amou o mundo, que, para salvá-lo, entregou à morte Jesus, o seu Filho Unigênito”7. Diante desta prova insuperável de amor que nos deu a Virgem das Dores, Santo Anselmo exclama: “Ó bendita entre as mulheres, tu excedes aos anjos em pureza, e aos santos em compaixão”8.

Este amor da Virgem Maria para conosco não diminuiu na glória celeste, onde se encontra. Ao contrário, muito maior é seu amor para conosco porque agora conhece mais claramente a nossa miséria. Por isso, declarou um anjo a Santa Brígida, que não há quem recorra a Santíssima Virgem sem receber graças de sua caridade. “Pobres de nós, se em nosso favor faltasse a intercessão de Maria! Sem os rogos de minha Mãe, disse Jesus a Santa Brígida, não haveria esperança de perdão para os pecadores”9.

As exigências de amor da Virgem Maria aos seus devotos no amor a Deus

Nossa Senhora ama tanto a Deus que não há certamente coisa alguma que ela exija mais de nós, seus devotos, do que O amar igualmente. A este respeito, disse a Santíssima Virgem a Santa Brígida: “Filha, se queres cativar o meu amor, ama o meu Filho”10.

A Virgem Maria toma para si as palavras da Esposa do Cântico dos Cânticos, pedindo que se faça saber ao seu Senhor o grande amor que lhe consagra: “Eu vos conjuro […] que lhe façais saber que estou enferma de amor” (Ct 5, 8). Com estas palavras, a Mãe da Igreja quis fazer manifestar a nós o seu amor; a fim de que, da mesma forma que ela estava ferida de amor, fosse infligida em nós a mesma ferida. Nossa Senhora foi toda abrasada de amor por Deus, por isso, abrasa e torna semelhantes a ela todos os que a amam e dela se aproximam. “Santa Catarina de Sena chamava a Maria Santíssima portatrix ignis: a portadora do fogo do amor divino”11. Por isso, se queremos também arder de amor neste fogo santo, aproximemo-nos cada vez mais, com afetos e súplicas, de nossa Mãe santíssima.

O fogo de amor que ardia no Imaculado Coração da Santíssima Virgem foi tão intenso que “ela não repetia os atos de amor, como fazem os outros santos, mas por um privilégio singular amou a Deus sempre atualmente com um contínuo ato de amor”12. A Virgem Maria amou e ama tanto a seu Deus, que certamente ela não exige outra coisa de nós, seus fiéis devotos, senão que o amemos igualmente. Mas, podemos nos perguntar: Como é que nós O amamos? Se não somos capazes de amar, aproximemo-nos com confiança de nossa amada Mãe, Maria Santíssima, e peçamos que nos faça semelhantes a ela:

Ah, Rainha do amor, Maria!, sois vós […] a mais amável, a mais amada e a mais amante de todas as criaturas13. Ah, minha Mãe!, vós que ardestes sempre e toda em amor a Deus, dignai-vos dar-nos ao menos uma faísca desse amor. Rogastes a vosso Filho por aqueles esposos aos quais faltava o vinho: Vinum non habent (Jo 2, 3) “Eles não têm vinho”: não rogareis por nós a quem falta o amor a Deus, ao qual temos tanta obrigação de amar? Dizei somente: Amorem non habent. “Eles não têm amor”, e alcançar-nos-eis o amor. Outra graça não vos pedimos senão esta. Ó minha Mãe!, por quanto amais a Jesus, atendei-nos, rogai por nós14.

As exigências de amor da Virgem Maria aos seus devotos no amor ao próximo

Para cativar a estima de Maria, não há melhor meio, diz São Gregório Nazianzeno, do que a prática da caridade para com o próximo. Do mesmo modo que o Senhor nos diz: “Sede misericordiosos, assim como também vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36), parece que a Virgem Maria diz também a nós, seus filhos: “Sede misericordiosos, como também vossa Mãe é misericordiosa”15. Este amor é exigente, mas também é cheio de misericórdia, pois é certo que Deus e Maria usarão conosco da mesma caridade que usarmos com nosso próximo: “Dai e dar-se-vos-à […] Porque com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos vós também” (Lc 6, 38). A este respeito, insiste, São Metódio: “Dai aos pobres e recebereis o paraíso em troca”16. Em outras palavras, São Paulo diz que a caridade para com o próximo nos torna felizes nesta e na outra vida: “a piedade, esta sim, é útil para tudo, porque tem a promessa da vida presente e da futura” (1 Tm 4, 8). Lemos ainda no livro dos Provérbios: “Quem se apieda do pobre empresta ao Senhor, que lhe restituirá o benefício” (Pr 19, 17), ou seja, quem ajuda o pobre tem a Deus por devedor, dizia São João Crisóstomo.

Por fim, para correspondermos à nossa alta vocação, que é o amor a Deus e ao próximo, com Santo Afonso Maria de Ligório, clamemos o auxílio de Nossa Senhora: “Ó Mãe de misericórdia, sois cheia de caridade para com todos: não vos esqueçais das minhas misérias. Vós bem as vedes. Encomendai-me àquele Deus que nada vos recusa. Obtende-me a graça de poder imitar-vos na santa caridade para com Deus e para com o próximo. Amém”17.

 

Links relacionados:

TODO DE MARIA. A consagração e o amor ao próximo.

TODO DE MARIA. A Cruz de Cristo: mistério do amor e do sofrimento.

TODO DE MARIA. O amor à Virgem Maria e a Jesus Cristo.

 

Referências:

1 SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo I: Desde o Primeiro Domingo do Advento até a Semana Santa inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 332.

2 Idem, ibidem.

3 Idem, p. 333.

4 Idem, ibidem.

5 SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Glórias de Maria. 3ª ed. Aparecida: Santuário, 1989, p. 420-421.

6 Idem, p. 421.

7 Idem, ibidem.

8 Idem, ibidem.

9 Idem, p. 422.

10SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano…, p. 333.

11 Idem, p. 334.

12 Idem, p. 332.

13 Palavras de São Francisco de Sales, citadas por Santo Afonso.

14 SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano…, p. 334.

15 SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Glórias de Maria. 3ª ed. Aparecida: Santuário, 1989, p. 422.

16 Idem, ibidem.

17 Idem, p. 423.

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