VIDA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS–Parte III
A mudança de São Francisco era completa, dava então os primeiros passos pelo caminho designado por Deus...
Continuação do post: Vida de São Francisco de Assis – Parte II
Algum tempo depois, os amigos de Francisco quiseram dar uma festa em sua honra.
Ele já não sentia gosto nem prazer nisso, mas aceitou o convite por cortesia.
Participou amavelmente no festim, que foi esplêndido. Após o banquete os convivas, como era habitual, percorreram as ruas de Assis a cantar. Naquela noite luminosa, Francisco foi ficando para trás, mais ocupado em pensamentos profundos do que em poesias profanas.
De repente, parou. Uma doçura inefável invadiu-o subitamente; sentiu-se inundado e submerso nas ondas apaziguadoras dessa suavidade. Um abraço invisível lançava-o para Deus e cumulava-o de ternura. Tudo desaparecia aos seus olhos.
Ficou de pé, imóvel, com o espírito arrebatado de admiração.
Entretanto, os seus companheiros, ao notarem que não os seguia, voltaram atrás, à sua procura.
- “Ora, vejam lá! – gritou um deles ao avistá-lo – Francisco está apaixonado”.
- “Sim – respondeu ele – aquela que eu desejo é a mais nobre, a mais bela que se possa imaginar”.
Com sentido de humor, dizia a verdade. Acabava de saborear a suavidade do Altíssimo e entregava-se sem reservas ao seu adorável Vencedor. Uma santa paixão subjugava a sua alma: amava a Deus com um amor único, entusiasta, absoluto.
Francisco voltou às suas ocupações habituais, mas a sua transformação interior era enorme.
Tinha sede de recolhimento.
Dirigia-se com frequência para os bosques vizinhos, a fim de se entregar com maior liberdade aos pensamentos que o dominavam. Descobriu na floresta uma gruta bastante profunda; era lá que se escondia para rezar. Reencontrava ali, na prece, a unção divina cuja doçura tinha sentido tão intensamente.
Um dos seus amigos acompanhava-o por vezes no passeio. O santo deixava-o à porta da gruta; entrava sozinho e ficava lá muito tempo. Como o amigo estranhasse a demora, Francisco respondia-lhe a sorrir: “Encontrei um tesouro”.
A sua generosidade, já de si grande, aumentou ainda mais. Dava esmolas com incansável liberalidade. Se lhe faltava o dinheiro, despojava-se da roupa.
Adornava a esmola com palavras graciosas; parecia considerar um favor que a sua oferta fosse aceita. Sob os farrapos do mendigo, a fé mostrava-lhe Cristo que se fez pobre por amor de nós.
Tinha compreendido, à luz do alto, que Deus se comunicava à alma à medida em que ela renuncia a si mesma. Empreendeu, pois, uma luta enérgica contra a repugnância que certas coisas lhe causavam.
Os leprosos, muito numerosos naquela época, inspiravam-lhe uma violenta repulsa. Um dia, Francisco encontrou um desses infelizes que vagueava tristemente pelo campo.
Quando viu o horrível rosto corroído pela doença, quis fugir; mas corou ao perceber a sua própria covardia.
Aproximou-se do enfermo, deu-lhe uma esmola; e, sem deixar transparecer em nada a sua repugnância, com um sorriso nos lábios e heroica caridade, abraçou-o.
Havia certas humilhações que o faziam estremecer. A sua altivez considerava a mendicidade como a suprema vexação. Pressentiria confusamente o futuro que lhe preparava a Providência? Mistério.
Mas o que é certo, é que se perguntava se alguma vez teria coragem de estender a mão. Quis, assim, provar as suas forças e vencer o orgulho.
Numa peregrinação a Roma, despojou-se momentaneamente das suas ricas vestes. Coberto de trapos, misturou-se com os pobres que se encontravam diante da Basílica de São Pedro e, como eles, implorou a caridade dos transeuntes.
Para realizar atos destes, não é preciso que uma alma esteja totalmente dominada por um imenso amor?
Francisco correspondera com generosidade invulgar às graças extraordinárias que o tinham incitado a percorrer o caminho da perfeição. Estava agora pronto a cumprir a missão que Deus lhe reservava.
Fonte: retirado do livro “São Francisco de Assis” do Rev. Pe. Thomas de Saint-Laurent.
Comentários
Postar um comentário