VIDA DE SÃO FRANCISCO DE ASSIS–Parte I

Desde o princípio, Deus tinha importantes desígnios sobre São Francisco de Assis; com certeza, um dos homens mais Santos a pisar na Terra.
O nosso Santo nasceu em Assis, a 26 de Setembro de 1181, e foi batizado com o nome de João.
O seu pai, Pedro Bernardone, era um rico comerciante; grande mercador de tecidos preciosos, auferia dos seus negócios lucros consideráveis. A sua mãe pertencia a uma nobre família da Provença.
O recém-nascido ficou, sem dúvida, à dever à origem francesa de sua mãe a alcunha de Francisco (francês), que lhe deram os seus parentes.
O dia do seu Batismo ficou marcado por um incidente bastante estranho. Quando o traziam de volta para casa, um misterioso desconhecido quis vê-lo e beijá-lo.
Olhou-o atentamente com expressão jubilosa; fez-lhe na testa o sinal da cruz, depois, com uma convicção que impressionou os circunstantes, declarou que o menino haveria de realizar grandes coisas e se tornaria um perfeito servo de Deus.
A predição ia cumprir-se.
Passaram os dias. Francisco cresceu rodeado de carinhos, mimado mesmo, no ambiente opulento em que todos os seus desejos eram satisfeitos.
Parece não ter manifestado uma piedade precoce; mas as pessoas viam desenvolver-se nele, a pouco e pouco, qualidades invulgares: inteligência vivíssima, delicadeza e profundidade de sentimentos, elevação da alma, entusiasmo comunicativo, cortesia e distinção de maneiras. Todos esses dons conferem prestígio, arrastam e cativam.
Aos vinte anos, possuía um ascendente incontestável sobre os jovens da cidade; tornara-se o seu ídolo. Cantava apaixonadamente das canções de gesta.
Os pares de Carlos Magno e os cavaleiros da Távola Redonda povoaram a sua imaginação ardente. A alma de Francisco, naturalmente idealista, vibrava com o relato daquelas aventuras.
Enquanto se embrenhava nessas leituras épicas, os mais famosos trovadores da Provença percorriam as mais diversas regiões italianas. Visitavam, sucessivamente, as cortes feudais e as cidades populosas, cantando as proezas de seus heróis perante espectadores deslumbrados.
Assis não tinha importância suficiente para atrair esses homens ilustres. Francisco quis, pois, suprir tal carência que o entristecia.
Concebeu um projeto de fundar um ciclo literário, onde os jovens da cidade e dos arredores cultivassem as trovas e os poemas de cavalaria. A iniciativa foi coroada com inesperado sucesso. À sua volta agruparam-se numerosos adeptos que, de comum acordo, o escolheram por chefe.
Francisco reunia com frequência os seus novos amigos. Convidava-os para banquetes e comprazia-se em tratá-los suntuosamente.
Depois dos festins, percorria com eles as ruas da cidadezinha e, na sombra transparente das belas noites de luar, cantavam em coro alguns dos seus melhores poemas.
Com o apreço pela literatura, veio o da elegância.
Francisco vestia-se com o maior requinte. Escolhia para a sua roupa os tecidos mais finos e mais raros; às vezes, para chamar a atenção, procurava mesmo dar-lhes formas bizarras. Todas as riquezas e todas as coisas belas não lhe bastavam. Numa palavra, queria distinguir-se.
A sua mãe preocupava-se com esses ares principescos. O pai considerava essas despesas um pouco pesadas, mas não se lamentava; os triunfos do filho lisonjeavam a sua vaidade.
No ímpeto destes verdes anos, Francisco deixava-se deslumbrar pela glória. Ouvira falar da predição do desconhecido que o beijara no dia do seu Batismo; de bom grado falava alegremente da sua futura celebridade.
Mais do que nenhuma, era atraído pela glória militar. Os acontecimentos haveriam de corresponder às suas ambições.
Uma daquelas guerras, tão frequentes na Idade Média, veio a opor em combate as duas cidades rivais de Perúgia e Assis. Francisco participou com entusiasmo nessa guerra. A luta foi desfavorável à sua cidade. Com um grande número de conterrâneos, caiu em poder dos inimigos.
Tinha-se comportado nobremente no campo de batalha; encarceraram-no juntamente com os cavaleiros. Durante os doze meses do cativeiro, procurou sempre reconfortar com seu bom humor os companheiros de infortúnio.
Sabia que a alegria pode tornar-se em certas circunstâncias, uma forma de heroísmo; soube mostrar-se muito corajoso.

Fonte: retirado do livro “São Francisco de Assis” do Rev. Pe. Thomas de Saint-Laurent.

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