LEITURAS SOBRE A NATIVIDADE DE NOSSA SENHORA

Evangelho da Natividade de Maria Traduzido do Hebreu por S. Jerônimo, A.D. 340-420




Tradução para português de Pedro Aguiar Pinto



Capítulo I 

A bem-aventurada e gloriosa sempre virgem Maria, de ascendência real e da família de David,nasceu na cidade de Nazaré e foi trazida a Jerusalém ao templo do Senhor. O seu pai chamava-se Joaquim e a sua mãe Ana. A casa do seu pai era da Galileia e da cidade de Nazaré, mas a família de sua mãe era de Belém. A vida de seus pais era isenta de malícia e agradável ao Senhor e irrepreensível e piedosa perante os homens. Dividiam o que tinham em três partes. Uma parte gastavam no templo e para os servos do templo, outra distribuíam pelos estrangeiros e pobres e a terceira reservavam para si e para as necessidades da família. Assim, queridos por Deus, amáveis para os homens, durante cerca de vinte anos viveram na sua própria casa um casamento casto, sem terem filhos. Todavia fizeram o voto de, na eventualidade de Deus lhes dar um descendente, entregá-lo-iam ao serviço do Senhor; à conta deste voto, costumavam visitar o templo do Senhor em cada festa durante o ano.


Capítulo II

Aconteceu que a festa da dedicação estava próxima; pelo que Joaquim subiu a Jerusalém com alguns homens da sua tribo. Nesse tempo Issachar era o sumo sacerdote. E ao ver Joaquim com a sua oferta entre os seus conterrâneos, desprezou-o e rejeitou as suas oferendas,perguntando-lhe como é que ele, que não tinha filhos se achava no direito de estar entre os que os tinham, dizendo que as suas ofertas não podiam, de modo nenhum, ser aceites por Deus, uma vez que Ele o tinha considerado imerecedor de descendência: porque a Escritura dizia, Amaldiçoado seja aquele que não dê um macho ou uma fêmea a Israel. Ele disse que,por conseguinte, ele tinha que se livrar, em primeiro lugar dessa maldição, arranjando um filho.E então, e só então, poderia vir à presença de Deus com as suas oferendas. E Joaquim,coberto de vergonha por esta repreensão que lhe era atirada à cara retirou-se para junto dos pastores que estavam no pastagem com os seus rebanhos; não regressou a casa, não se fosse dar o caso de ser contemplado com a mesma censura pelos homens da sua própria tribo que tinam presenciado a repreensão do sumo sacerdote.



Capítulo III

Então, quando ele já aí estava há algum tempo, num certo dia em que ele estava sozinho, um anjo do Senhor apresentou-se-lhe no meio de uma grande luz. E quando ele estava perturbado com esta aparição, o anjo sossegou-o, dizendo: Não temas, Joaquim, nem te perturbes com a minha aparição porque eu sou o anjo do Senhor, enviado por Ele para te dizer que as tuas orações foram ouvidas, e que as tuas ações caridosas chegaram à Sua presença. Porque ele viu a vergonha e ouviu a repreensão da esterilidade que te foi injustamente trazida. Porque Deus é o vingador do pecado, não da natureza: e, assim, quando Ele fecha o ventre de alguém, fá-lo para que Ele possa abri-lo miraculosamente outra vez; de modo que aquele que nasce seja reconhecido não como fruto da luxúria, mas como dádiva do Senhor. Porque não foi assim o caso da primeira mãe da tua nação, Sara, estéril até aos oitenta anos? E, não obstante, mesmo com essa idade, ela deu à luz, Isaac, a quem a promessa da bênção de todas as nações foi renovada. Também Raquel, tão favorecida pelo Senhor e tão amada pelo santo Jacob, foi longamente estéril; e contudo, gerou José, que não só foi senhor do Egito,mas a providência de muitas nações que estavam perto de morrer de fome. Quem entre os juízes quem era mais forte do que Sansão ou mais santo do que Samuel? E contudo as mães de ambos foram estéreis. Se, mesmo assim, a razoabilidade das minhas palavras não te consegue persuadir, acredita no fato de que as concepções muito tarde na vida e os nascimentos no caso de mulheres que foram estéreis, são geralmente acompanhadas de qualquer coisa de maravilhoso. Deste modo, a tua mulher Ana dar-te-á uma filha a quem porás o nome de Maria: ela será, como foi o vosso voto, consagrada ao Senhor na sua infância e será cheia do Espírito Santo, ainda mesmo no ventre de sua mãe. Ela não comerá nem beberá nada impuro, nem passará a sua vida entre as multidões, mas no templo do Senhor, de modo que não seja possível dizer, ou mesmo suspeitar, algum mal a respeito dela. Assim, quando ela for crescida, na mesma medida em que ela nasceu miraculosamente de uma mulher estéril, de um modo incomparável ela, a virgem, dará à luz o Filho do altíssimo, que se chamará Jesus, e que, de acordo com a etimologia do Seu nome, será o Salvador de todas as nações. E este será o sinal que te darei sobre estas coisas que te anuncio: Quando chegares à Porta Dourada em Jerusalém, encontrarás Ana, a tua mulher, que, estando ansiosa com a demora do teu regresso, regozijará quando te vir. Tendo dito isto, o anjo, partiu.



Capítulo IV

Em seguida, apareceu a Ana, a mulher de Joaquim: Não temas, Ana, nem penses que é um fantasma o que vês. Porque eu sou o anjo que apresentou as vossas orações e oferendas perante Deus e agora fui-vos enviado para vos anunciar que ireis ter uma filha, que será chamada Maria, e que será abençoada acima de todas as mulheres. Ela, cheia da graça do Senhor, mesmo desde o nascimento, permanecerá três anos na casa de seu pai até deixar de mamar. Depois, sendo entregue ao serviço do Senhor, não sairá do templo antes de atingir os anos da discrição. Aí, finalmente, servindo Deus dia e noite com jejuns e orações ela abster-se-á de tudo o que seja impuro; não conhecerá homem, mas sozinha, sem exemplo, imaculada, incorrupta, sem conhecer homem, ela, a virgem, dará à luz um filho; ela, criará o Senhor em graça e no trabalho, o Salvador do mundo. Por isso, levanta-te e sobe até Jerusalém e quando chegares à porta que, por ser revestida a ouro, se chama Dourada, aí, como sinal, encontrarás o teu marido, pela segurança de quem estás tão ansiosa. E quando estas coisas assim acontecerem, fica a saber que o que eu anuncio será, sem dúvida, cumprido.



Capítulo V

Assim, tal como o anjo havia ordenado, ambos partiram para Jerusalém; e quando chegaram ao lugar indicado pela profecia do anjo, encontraram. Então, alegrando-se por se verem um ao outro, e seguros da certeza da promessa daquela filha, deram graças ao Senhor, que exalta os humildes. E, assim, tendo rezado ao Senhor, voltaram para casa e esperaram confiantes e alegres a divina promessa. Ana, então, concebeu e deu à luz uma filha; e tal como o anjo tinha dito, os seus pais deram-lhe o nome de Maria.



(o restante não encontrei tradução)




“Do livro Mística Cidade de Deus”



O Feliz Nascimento de Maria Santíssima Senhora Nossa Nascimento de Maria



Chegou para o mundo o alegre dia do feliz parto de Sant´Ana, e nascimento daquela que vinha santificada e consagrada para Mãe do mesmo Deus. ...

Sua Mãe Ana foi prevenida por interior..., na qual recebeu aviso do Senhor que chegara a hora do parto. Ouviu sua voz cheia de gozo do divino Espírito, e prostrada em oração pediu ao Senhor que a assistisse com sua graça e proteção para o feliz sucesso de sua maternidade.

Sentiu o natural movimento que acontece em tal caso, e a mais que ditosa menina Maria foi, por virtude e providência divina, arrebatada num altíssimo êxtase. Abstraída de todas as operações sensitivas, nasceu ao mundo sem o conhecer pelos sentidos, pois por eles poderia ter notado, já que possuía o uso da razão. O poder do Altíssimo dispôs por daquele modo, para que a princesa do céu não percebesse o próprio nascimento.





Maria, aurora da graça

Nasceu pura. Limpa, formosa e cheia de graças, publicando por elas que vinha livre da lei e tributo do pecado. Em substância , nasceu como os demais filhos de Adão, mas com tais condições e particularidades da graça, que este nascimento foi admirável milagre para toda a natureza e eterno louvor de seu autor.

Despontou, pois, este divino luzeiro no mundo às doze horas da noite, começando a separar a noite e trevas da antiga lei, do novo dia da graça que já queria amanhecer.

Envolveram-na em panos e foi tratada como as demais crianças, aquela que tinha sua mente na Divindade, e como infante, quem em sabedoria excedia a todos os mortais e aos mesmos anjos. Não consentiu sua mãe que outras mãos cuidassem da menina, e com as suas as envolveu em mantilhas. Seu estado não lhe foi impedimento, porque foi isenta das onerosas conseqüências que ordinariamente sofrem as outras mães em seus partos.


Oração de Sant´Ana

Recebeu Sant´Ana em suas mãos aquela que, sendo sua filha, era ao mesmo tempo o maior tesouro do céu e da terra entre as puras criaturas, inferior somente a Deus e superior a toda a criação.

Com fervor e lágrimas a ofereceu a Deus dizendo interiormente: Senhor de infinita sabedoria e poder, criador de tudo quanto existe: ofereço-vos o fruto do meu seio, recebido de vossa bondade, com eterno agradecimento por mo terdes dado sem eu tê-lo podido merecer. Na filha e mãe cumpri vossa vontade santíssima e do alto de vosso trono e grandeza olhai para nossa pequenez.

Sede eternamente bendito por terdes enriquecido o mundo com criatura tão agradável ao vosso beneplácito, e porque Nela preparastes a morada e tabernáculo (Sb 9,8) para o Verbo Eterno residir. A meus santos pais e profetas dou felicitações e neles a toda a linhagem humana, pelo seguro penhor que lhes dais de sua redenção.

Entretanto, como tratarei aquela que me dais por filha, se não mereço ser sua serva? Como tocarei a verdadeira arca do testamento? Dai-me, Senhor e Rei meu, a luz que necessito para conhecer vossa vontade, e executá-la para vosso agrado e serviço de minha filha.



Resposta do Senhor

Respondeu o Senhor no intimo da santa matrona, que exteriormente tratasse a divina menina como sua filha sem mostrar-lhe reverência, mas que conservasse em seu coração essa reverência. No mais, cumprisse com as obrigações de verdadeira Mãe, criando sua filha com solicitude e amor.

Assim fez a feliz mãe. Usando deste direito e permissão, sem perder a divina reverência, deliciava-se com sua Filha Santíssima, tratando-a e acariciando-a como as outras mães, mas atenda a grandeza do tão oculto e divino segredo que entre ambas haviam.

Os anjos de guarda da meiga menina, com grande multidão de outros deles, a reverenciaram nos braços de sua mãe e lhe entoaram celestial música, da qual ouviu um pouco a ditosa Ana.

Os mil anjos nomeados para a custódia da grande Rainha, ofereceram-se e dedicaram-se ao seu serviço. Foi esta a primeira vez que a divina Senhora os viu em forma corpórea, com as divisas e vestes que explicarei noutro capítulo. A menina pediu-lhes louvassem com Ela, e em seu nome, ao altíssimo.


S. Grabriel anuncia ao limbo o nascimento de Maria

No momento em que nasceu nossa princesa Maria, o Altíssimo enviou o Santo Arcanjo Gabriel para participar aos santos pais do limbo esta tão alegre nova para eles.

O embaixador celestial desceu logo, iluminando aquela profunda caverna e alegrando aos justos nelas detidos. Noticiou-lhes que já começava amanhecer o dia da eterna felicidade e redenção do gênero humano, tão desejado e esperado pelos santos e vaticinado pelos profetas. Já nascera a futura Mãe do Messias prometido, e muito em breve veriam a salvação e glória do Altíssimo.

Deu-lhes notícia os santo Príncipe, das excelências de Maria Santíssima e do que a mão do onipotente começara a fazer por Ela, para conhecerem, melhor o ditoso princípio do mistério que poria fim a sua prolongada prisão.

Todos aqueles pais, profetas e demais justos que estavam no limbo alegraram-se em espírito, e com novos cânticos louvaram o Senhor por este benefício.



Os anjos reconheceram Maria por sua Rainha

Quem poderá dignamente exaltar este maravilhoso prodígio da destra do onipotente ? Quem dirá o gozo e admiração dos espíritos celestiais, ao verem e celebrarem com novos cânticos aquela tão nova maravilha entre as obras do Altíssimo ?.

Ali reconheceram e reverenciaram a sua Rainha e Senhora, escolhida para Mãe Daquele que seria sua cabeça, causa da graça e da glória que possuíam, pois as deviam aos méritos de Cristo, previstos na divina aceitação.

Mas, que língua e que pensamento mortal Poe entrar no segredo do coração daquela tenra menina, no sucesso e feitos de tão peregrino favor ?. Deixo-o a piedade católica, e muito mais aos que no Senhor o conheceram, e a nós quando por sua misericórdia infinita chegarmos a gozá-lo face a face.



Deus impõe-lhe o nome de Maria

Determinou-se naquele divino consistório e tribunal, dar nome a Menina rainha. Como nenhum é legitimo e adequado senão o que é posto no ser imutável de Deus, onde com equidade, peço medida e infinita sabedoria se dispensam e ordenam todas as coisas, quis Sua Majestade dá-lo por si mesmo, no céu. 

Manifestou aos espíritos angélicos que as três divinas pessoas haviam decretado e formado os dulcíssimos nomes de Jesus e Maria, para filho e mãe ab initio ante saecula. Que desde toda a eternidade haviam se comprazido neles, gravando-os em sua memória eterna e tendo os presentes em todas as coisas a que haviam dado existência, pois para o serviço deles tinham sido criados.

Conhecendo estes e outros mistérios, os santos anjos ouviram sair do trono do Pai Eterno que dizia:- Nossa eleita chamar-se–á Maria, e este nome há de ser maravilhoso e magnífico. Os que o invocarem com devoção receberão copiosíssimas graças, os que o pronunciarem com reverência serão consolados, e todos acharão nele alívio para suas dores, tesouros com que se enriquecerem, luz para serem guiados à vida eterna. Será terrível contra o inferno, esmagará a cabeça da serpente e obterá insígnes vitórias contra os príncipes das trevas.

Mandou o Senhor aos espíritos angélicos que participassem este ditoso nome à Sant´ana, para ser realizado na terra o que fora confirmado no céu. A divina Menina prostrada pelo afeto ante o trono, deu humildes graças ao Ser eterno e com admiráveis e dulcíssimos cantos recebeu o nome.

Se se quisesse escrever as prerrogativas e graças que lhe concederam, seria mister compor livro separado em maiores volumes.

Os santos reverenciaram de novo, no trono do Altíssimo, a Maria Santíssima por futura Mãe do Verbo, sua Rainha e Senhora. Veneraram seu nome, prostrando-se ao ser pronunciado pela voz do eterno Pai, particularmente os que o levavam sobre o peito como divisa. Todos cantaram louvores por mistérios tão grandes e ocultos, mas a Menina Rainha ignorava a causa de quanto presenciava, porque não lhe seria manifestada sua dignidade de Mãe do Verbo até o tempo da Encarnação.

Com o mesmo júbilo e reverência voltaram os anjos a pô-la nos braços de Sant´ana, a quem foi oculto este sucesso e a ausência de sua filha, pois fora substituída por um de seus anjos da guarda, com um corpo aparente.

Além disso, enquanto a divina Menina esteve no céu empíreo, teve sua mãe Ana um êxtase de altíssima contemplação. Nele, ainda que ignorava o que se passava com sua Menina, lhe foram manifestados grandes mistérios da dignidade da Mãe de Deus para a qual sua filha era escolhida. A prudente matrona conservou-os sempre em seu coração, meditando-os para, de acordo com eles, proceder com sua filha.



O nascimento de Maria, alegria para o céu e a terra

Aos oito dias do nascimento da grande Rainha, desceram das alturas multidões de anjos formosíssimos e roçagantes. Traziam um brasão no qual vinha gravado e resplandecente o nome de MARIA. Manifestando-se a ditosa mãe Ana disseram-lhe que o nome de sua filha era o que traziam. Que a divina providência lho havia dado e ordenava que ela e Joaquim o impusessem logo. ...

... Deste modo recebeu nossa Princesa o nome que lhe foi dado pela Santíssima Trindade, no céu no dia em que nasceu, e na terra oito dias depois. Foi inscrito no registro dos demais, quando sua mãe foi ao Templo para cumprir a lei, ...



Fonte:

Livro: “Mística Cidade de Deusnsmariadenazareth.blogspot.com.br” – Maria de Ágreda - Espanha Século XVII
Primeiro Tomo - páginas: 171 a 175 - Capítulo 21
Natividade de Maria. Que presente lhe dou?



Os filhos, especialmente quando são ainda pequenos, costumam pensar no que hão-de fazer por eles os seus pais, esquecendo-se das suas obrigações de piedade filial. Nós, os filhos, somos geralmente muito interesseiros, embora esta nossa conduta - já o fizemos notar - não pareça incomodar muito as mães, porque têm suficiente amor nos seus corações e querem com o melhor carinho: aquele que se dá sem esperar correspondência. Assim acontece também com Santa Maria.
Amigos de Deus, 289



O que dá gosto à minha mãe
Como se comporta um filho ou uma filha normal com a sua mãe? De mil maneiras, mas sempre com carinho e confiança. Com um carinho que se manifestará em cada caso de determinadas formas, nascidas da própria vida, e que nunca são algo de frio, mas costumes muito íntimos de família, pequenos pormenores diários que o filho precisa de ter com a sua mãe e de que a mãe sente falta, se o filho alguma vez os esquece: um beijo ou uma carícia ao sair ou ao voltar a casa, uma pequena delicadeza, umas palavras expressivas...
Cristo que passa, 142

”Estar perto d'Ela”
Voltemos mais uma vez à experiência de cada dia, ao modo de tratar com as nossas mães na terra. Acima de tudo, que desejam dos seus filhos, que são carne da sua carne e sangue do seu sangue? O seu maior desejo é tê-los perto. Quando os filhos crescem e não é possível continuarem a seu lado, aguardam com impaciência as suas notícias, emocionam-se com tudo o que lhes acontece, desde uma ligeira doença até aos acontecimentos mais importantes.
Amigos de Deus, 289

Uns momentos de conversa confiada
Porque Maria é Mãe, a sua devoção ensina-nos a ser filhos - a amar deveras, sem medida; a ser simples, sem as complicações que nascem do egoísmo de pensar só em nós; a estar alegres, sabendo que nada pode destruir a nossa esperança. O princípio do caminho que leva à loucura do amor de Deus é um confiado amor a Maria Santíssima. Assim o escrevi já há muitos anos, no prólogo a uns comentários ao Santo Rosário, e desde então muitas vezes voltei a comprovar a verdade destas palavras. Não vou fazer aqui muitas considerações para glosar esta ideia; convido-vos, sim, a fazerdes vós a experiência, a descobrirdes isso por vós mesmos, conversando amorosamente com Maria, abrindo-lhe o vosso coração, confiando-lhe as vossa alegrias e as vossas penas, pedindo-lhe que vos ajude a conhecer e a seguir Jesus.
Cristo que passa, 143

Rezar com mais atenção 
Nas nossas relações com a nossa Mãe do Céu, existem também essas normas de piedade filial, que são modelo do nosso comportamento habitual com Ela. Muitos cristãos tornam seu o antigo costume do escapulário; ou adquirem o hábito de saudar (não são precisas palavras; o pensamento basta) as imagens de Maria que há em qualquer lar cristão ou que adornam as ruas de tantas cidades; ou dão vida a essa oração maravilhosa que é o Terço, em que a alma não se cansa de dizer sempre as mesmas coisas, como não se cansam os enamorados, e em que se aprende a reviver os momentos centrais da vida do Senhor; ou então habituam-se a dedicar à Senhora um dia da semana - precisamente este em que estamos reunidos: o sábado - oferecendo-lhe alguma pequena delicadeza e meditando mais especialmente na sua maternidade...
Há muitas outras devoções marianas que não é necessário recordar aqui neste momento. Nem todas têm de fazer parte da vida de cada cristão - crescer em vida sobrenatural é algo de muito diferente de ir amontoando devoções - mas devo afirmar ao mesmo tempo que não possui a plenitude da fé cristã quem não vive alguma delas, quem não manifesta de algum modo o seu amor a Maria.
Cristo que passa, 142

E se lhe pedir um presente? 
Dirige-te a Nossa Senhora e pede-lhe que te faça a oferta - prova do seu carinho por ti - da contrição, da compunção pelos teus pecados e pelos pecados de todos os homens e mulheres de todos os tempos, com dor de Amor.
E com essa disposição, atreve-te a acrescentar: - Mãe, Vida, minha Esperança, conduz-me pela tua mão..., e se há alguma coisa agora em mim que desagrada ao meu Pai-Deus, concede-me que a veja e que, entre os dois a arranquemos.
Continua sem medo: - Ó clementíssima, ó piedosa, ó doce Virgem Santa Maria!, roga por mim, para que, cumprindo a amabilíssima Vontade do teu Filho, seja digno de alcançar e gozar as promessas de Nosso Senhor Jesus.
Forja, 161

Melhorar para servir melhor
Não podemos conviver filialmente com Maria e pensar apenas em nós mesmos, nos nossos problemas. Não se pode tratar com a Virgem e ter, egoisticamente, problemas pessoais. Maria leva a Jesus e Jesus é primogenitus in multis fratribus, primogénito entre muitos irmãos. Conhecer Jesus, portanto, é compreendermos que a nossa vida não pode ter outro sentido senão o de entregar-nos ao serviço dos outros. Um cristão não pode reduzir-se aos seus problemas pessoais, pois tem de viver face à Igreja universal, pensando na salvação de todas as almas.
Deste modo, até aquelas facetas que poderiam considerar-se mais íntimas e privadas - a preocupação pelo progresso interior - não são, na realidade, individuais, visto que a santificação forma uma só coisa com o apostolado. Havemos de esforçar-nos, na nossa vida interior e no desenvolvimento das virtudes cristãs, pensando no bem de toda a Igreja, dado que não poderíamos fazer o bem e dar a conhecer Cristo, se na nossa vida não se desse um esforço sincero por realizar os ensinamentos do Evangelho.
Impregnadas deste espírito, as nossas orações, ainda que comecem por temas e propósitos aparentemente pessoais, acabam sempre por ir ter ao serviço dos outros. E, se caminharmos pela mão da Virgem Santíssima, Ela fará com que nos sintamos irmãos de todos os homens, porque todos somos Filhos desse Deus de que Ela é filha, esposa e mãe.
Cristo que passa, 145

Fazer-lhe notar que é minha mãe
Meditemos frequentemente tudo o que temos ouvido sobre a nossa Mãe numa oração sossegada e tranquila. E, como resultado, ir-se-á gravando na nossa alma uma espécie de compêndio, para recorrermos a Ela sem vacilar, especialmente quando não tivermos outro apoio. Não será isto interesse pessoal da nossa parte? Certamente que o é. Mas, porventura, não sabem as mães que os filhos são geralmente um pouco interesseiros e que com frequência se dirigem a elas como último remédio? Sabem-no e não se importam. Por isso são mães e o seu amor desinteressado percebe - no nosso aparente egoísmo - o nosso afeto filial, a nossa confiança inabalável.

Não pretendo - nem para mim, nem para vós - que a nossa devoção a Santa Maria se limite a estas invocações prementes. Acho, no entanto, que não deve humilhar-nos que nos aconteça isso alguma vez. As mães não contabilizam os pormenores de carinho que os seus filhos lhes demonstram, não pesam nem medem com critérios mesquinhos. Uma pequena demonstração de amor, saboreiam-na como se fosse mel e acabam por conceder muito mais do que receberam. Se assim fazem as mães boas da terra, imaginai o que poderemos esperar da nossa Mãe, Santa Maria!
Amigos de Deus, 280

Nós próprios como presente
De manhã e à tarde, não um dia, mas habitualmente, ainda renovo aquele oferecimento que os meus pais me ensinaram: Ó Senhora minha, ó minha mãe, eu me ofereço todo a Vós. E, em prova da minha devoção para convosco, Vos consagro neste dia os meus olhos, os meus ouvidos, a minha boca, o meu coração...Não será isto, de algum modo, um princípio de contemplação, uma demonstração evidente de confiante abandono? Que dizem aqueles que se querem, quando se encontram? Como se comportam? Sacrificam tudo o que são e tudo o que possuem pela pessoa que amam.
Amigos de Deus, 296

Todos os dias são marianos
Nas festas de Nossa Senhora não regateemos as demonstrações de carinho; elevemos com mais frequência o coração pedindo-lhe aquilo de que necessitamos, agradecendo-lhe a sua solicitude maternal e constante, encomendando-lhe as pessoas que estimamos. Mas, se pretendemos comportar-nos como filhos, todos os dias serão ocasiões propícias de amor a Maria, como o são para os que se querem deveras.
Amigos de Deus, 291




"Quereis saber quão... digno de ser festejado é o nascimento desta celestial Menina? 
Escutai para que nasceu:

- Perguntai aos enfermos, e dirão que nasceu para ser a Senhora da Saúde.
- Perguntai aos pobres, e dirão que nasceu para ser a Senhora dos Remédios.
- Perguntai aos desamparados, e dirão que nasceu para ser a Senhora do Amparo.
- Perguntai aos desconsolados, e dirão que nasceu para ser a Senhora da Consolação.
- Perguntai aos tristes, e dirão que nasceu para ser a Senhora dos Prazeres.
- Perguntai aos desesperados, e dirão que nasceu para ser a Senhora da Esperança.
- Para os cegos dirão que nasceu a Senhora da Luz;
- Para os brigados, a Senhora da Paz;
- Para os desencaminhados, a Senhora da Guia;
- Para os nascituros, a Senhora do Livramento;
- Para os cercados, a Senhora da Vitória.
- Para os navegantes, a Senhora da Boa Viagem;
- Para os pecadores todos, a Senhora da Graças;
- Para todos os seus devotos, a Senhora da Glória.

E se todas estas vozes se unirem numa só voz, dirão que nasceu para ser Maria e Mãe de Jesus" (Sermão do Nascimento da Mãe de Deus).

Oração: Imaculada Maria Menina, roga por nós!



Padre Antônio Vieira
Fonte: Ave Luz 

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